Todos
nós, mais dia, menos dia, esbarramos em alguém que nos tira do sério. Uma
pessoa realmente difícil. Não falo dos carrancudos usuais que cruzam nossos
caminhos e depois desaparecem, como motoristas mal-humorados, vendedores
cricris ou entregadores grosseiros. Refiro-me aos que nos enlouquecem, pisam em
nosso calo, mas que não podemos ignorar, tampouco evitar, como colegas de
trabalho, vizinhos ou parentes. Pode até ser que sejam personalidades do
"Tipo A", que explodem sua raiva
1) você sai do recinto e bate a porta;
2) a
pessoa difícil sai e bate a porta;
3) ambas
saem e batem a porta. De qualquer modo, o jogo da "gritaria" sempre
culmina com uma porta batendo.
Em vez de tentar mudar a outra pessoa,
deveríamos ter cuidado para não entrar no jogo dela. Não interpretar a
beligerância como um ataque pessoal e não entrar na reação de
"lutar-ou-fugir" que herdamos da vida animal. Ao praticar diariamente
técnicas de autotransformação, podemos manter o equilíbrio mental até mesmo nas
situações mais conflitantes, sem responder reativamente a rompantes e
chantagens emocionais. Poderemos ouvir calma e atentamente, sem entrar no
ringue para nos defender. Uma história do folclore coreano ilustra bem isso.
Uma jovem mulher, Yun Ok, foi até o célebre monge da montanha.
- Ó respeitável sábio - disse ela. - Estou
- Tudo bem - disse o sábio. - Qual é sua
história?
- É meu marido. Nos últimos anos, ele esteve
ausente, lutando numa guerra. Agora que voltou, quase não fala comigo. Se falo,
ele parece não ouvir. Quando abre a boca para falar, é rude e zangado. Se lhe
sirvo comida, ele não gosta; empurra o prato para o lado e sai da mesa raivoso.
Preciso de uma poção para que ele volte a ser amoroso e carinhoso!
O sábio respondeu:
- Tenho a receita. Mas o ingrediente
essencial é o bigode de um tigre vivo.
- O bigode de um tigre vivo! - disse a moça.
- Como vou conseguir isso?
- Se a poção for realmente importante para
você, então você terá êxito - respondeu o monge.
A moça foi para casa. Naquela noite, enquanto
o marido dormia, saiu furtivamente com uma tigela de arroz e um naco de carne.
Chegou a uma prudente distância da caverna de um tigre, estendeu a comida e o
chamou para comer. O tigre não veio. Na noite seguinte, fez a mesma coisa,
desta vez mais perto da caverna. De novo, nada aconteceu. Todas as noites ela
ia à caverna, cada vez se aproximando mais. Pouco a pouco o tigre acostumou-se
com ela. Certa noite, chegou a uma distância da qual se poderia atirar uma
pedra na caverna e parou. A moça e o tigre fitaram-se sob a luz da lua. Na
noite seguinte, ela se aproximou ainda mais, a ponto de estar tão próxima que
poderia falar com o tigre com uma voz muito suave. Pouco depois, o tigre comeu
a comida oferecida.
Na outra noite, o tigre a esperava. Depois
que ele comeu, ela passou a mão sobre sua cabeça, e ele começou a ronronar.
Seis meses haviam se passado desde a noite da primeira visita. Finalmente,
depois de tê-lo acariciado na cabeça, ela disse: "Ó generoso Tigre,
preciso de um de seus bigodes. Por favor, não se zangue comigo!". E ela
cortou um dos bigodes. O tigre não se zangou, e a lambeu. Ela correu em
disparada pela trilha, com o bigode nas mãos. Exultante, chegou à caverna do
eremita: "Ó grande sábio, consegui o bigode do tigre! Agora você pode
fazer a poção mágica!". O sábio examinou o bigode cuidadosamente,
satisfeito porque era mesmo de tigre, e jogou-o na fogueira.
- O que você fez? - gritou a moça. - Depois
de todo o esforço que eu fiz para pegar o bigode!
- Conte-me como você o conseguiu - disse o
sábio.
- Todas as noites, eu ia à caverna do tigre
com uma tigela de comida, para ganhar sua confiança. Falava docemente com ele, para
fazê-lo compreender que só queria seu bem. Fui paciente. Cada noite, levava
comida sabendo que ele não a comeria. Mas não desisti. Nunca falei asperamente,
nem o censurei. Finalmente, numa noite, ele andou alguns passos
- Você domesticou o tigre com sua
persistência e seu amor - disse o sábio.
- Mas você jogou o bigode do tigre no fogo!
Foi tudo a troco de nada! - lamentou-se ela.
- Não, não foi tudo a troco de nada. Você não
precisa mais do bigode. Será que seu marido é mais feroz que um tigre? Será que
ele é menos sensível ao carinho e à compreensão? Se você é capaz de ganhar a
confiança de um animal selvagem e sedento de sangue com suavidade e paciência,
certamente poderá fazer o mesmo com seu marido!
Yun Ok permaneceu
emudecida por alguns momentos. Então voltou pela trilha, refletindo sobre a
grande verdade que havia aprendido do sábio da montanha. O segredo para lidar
com pessoas difíceis é não morder a isca da negatividade delas e deixar que
elas mordam sua isca de um coração empático e cheio de amor.
Moral : Não
devemos tentar mudar a outra pessoa. Nem morder a isca e entrar no jogo da
gritaria
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